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SÓCRATES Do primeiro Dezembro 2020 Sócrates que conhecemos, o filósofo de Atenas, ao último, o médico e jogador de futebol de Belém do Pará, herdase, na essência, uma mesma ideia: a de uma maneira de compreender a vida com e para os outros para além do que se costumou chamar, e reivindicar em tempos difíceis como os atuais, de democracia. É do grego que o ocidente herdou o culto ao diálogo – e o tom negativo da persuasão. Ele se opôs aos sofistas – homens que perambulavam pelas cidades da Grécia ensinando crianças sobre o poder da retórica e da sua capacidade de mudar qualquer convenção – afirmando que o conhecimento, na verdade, é sempre autoconhecimento, que o saber nunca é exterior, apreendido pela palavra que convence, mas é uma luz que permanece dentro de cada um esperando apenas ser encontrada. A metáfora da luz não é à toa: se todos os seres humanos em todos os rincões da Terra nascem dispostos de virtude e de bem, eles 8 não podem alcançá-los em sua totalidade sozinhos. Dependem de um movimento em que reconhecem a própria e absoluta ignorância – inclusive sobre si mesmos, como a psicanálise mostraria séculos depois – e, então, conseguem parir um conhecimento inerente à sua condição, por meio do diálogo constante, da conversa que não cessa, da relação social. É por isso que, em uma das conversas escritas posteriormente por Platão, um mestre (Sócrates) se coloca diante do seu aprendiz como um obstetra: “Na nossa arte, há a seguinte particularidade: que se pode averiguar por todo o meio se o pensamento do jovem vai dar à luz a algo de fantástico e falso, ou de genuíno e verdadeiro. Pois acontece também a mim como às parteiras: sou estéril de sabedoria; e o que muitos têm reprovado em mim, que interrogo os outros, e depois não respondo nada a respeito de nada por falta de sabedoria, na verdade pode me ser censurado. E é esta a causa: que Deus obriga-me a agir como um obstetra, porém veda-me de dar à luz”.

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