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SÓCRATES Dezembro 2020 servo dele, não ficar indignado com um comportamento deste”. Tudo isso num tom de voz aceitável, claro nas ideias. Ambos pediram desculpas e perdão ao eclesiástico dizendo que não tiveram a intenção. Aliás, a esposa respondeu e o marido, repetiu algumas palavras da mulher. A morte moral do casal me fez bem (Não vou para o céu) e continuei a caminhada, matutando sobre o que acabara de ouvir. Toda vez que algum cidadão elogia o Pelé, sempre tem outro(a) lembrando o caso da filha. “Que golaço o Rei fez na final da Copa de 70”, a resposta é automática “e a filha hein”, “Nossa que jogador foi o Pelé”, outro cidadão(ã) “e o caso da filha hein”, “O Pelé era um visionário, prometeu milésimo gol às crianças” e mais um desgraçado (a) emite o seu zurro “Mas não reconheceu a filha”. Pois bem, vou contar um segredo a essas pessoas: Pelé é humano. Erra como qualquer um, pode ter errado na relação com a filha e errou em muitas outras coisas, mas enfrentou o racismo e passou por inúmeras dificuldades para atingir o ponto em que chegou. E se tivesse sido mais atuante em qualquer ponto na sociedade, seria permitido a ele alcançar o sucesso? Pelé foi aceito por ser negro ou por ser um homem extraordinário em determinada função? E quem somos nós, eu um pardo e os brancos, para determinar como um negro deve se comportar? Continuei a perambular e com o intento de tomar uma cachaça para desanuviar um sentimento de culpa incompreensível; avistei um boteco pouco higiênico, daqueles que antes de servir o café limpa o copo na água quente que esquenta a bebida no “bule”, sentei no banco do balcão, fui atendido de prima, desisti da pinga e pedi o cafezinho higienizado na água quente do “Bule”. Vejo chegar uma caminhonete na frente do bar, um cidadão, entre 40 e 45 anos, sem cabelos, de sapatênis, bermuda jeans, exageradamente corpulento; usava uma camisa polo que não chegava a cobrir o umbigo. Aliás, era uma saliência pré 30

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