25

SÓCRATES Dezembro 2020 No dia 25 de novembro, sem ser comunicado pela imprensa ou mesmo pelos familiares, descobrimos o falecimento de quem escreveu e leu este texto. Outras mortes também foram constatadas, apesar do leitor e da leitora não terem notado. O padeiro, a feirante, a moça que vende lactobacilos pelas ruas, a caixa do açougue, a executiva do centro financeiro e muitos atores, atrizes e autoras da TV e da Internet, todos foram desta para a melhor ou pior (ninguém voltou para dar a resposta). E muito triste que não soubemos, mas os pais, os irmãos, os tios e tias e por fim os avós padeceram na quarta-feira, no vigésimo quinto dia de novembro do ano de 2020, todos morreram juntos a Diego Armando Maradona Franco. Todos nós tínhamos algo de “Diego” e Maradona teve defeitos e virtudes facilmente encontradas em qualquer um de nós. As muitas faces de Diego Armando não eram diferentes das máscaras de Maradona. Nunca foram dois, não havia separação. Não há como ficarmos com a parte boa e expulsarmos a parte ruim de qualquer ser humano. Franco (o único nome e sobrenome não citado neste parágrafo) era gênio, machista, pai carinhoso, homofóbico, também contumaz tagarela, frasista político, genial, alienado, a quem você queria ter como amigo E, muitas vezes, paradoxalmente, elegê-lo como inimigo, enfim, um ser humano. Aliás, um exemplo de humanidade. Em frente à Casa Rosada para o velório, o argentino Andrés Quinteros definiu Maradona de forma clara ao meu entendimento “Ele (Maradona) é o gênio, ele é o povo, ele somos nós, a vida, o amor”. Os ponteiros do relógio apontavam para o infinito, eram 12 horas. Procuro o celular, e não acho (depois vim saber que foi “furtado” pela companheira de vida). Tocou o telefone fixo, e eu estava no lugar de onde dificilmente saio, o panteão das obsessões. Atendo a ligação e era Diego, um colega de anos que logo após o alô justificava algum fato que não conseguia entender: “Primeiro de tudo, calma. Há muito tempo ele (quem?) vinha demonstrando uma frágil saúde devido aos excessos de uma sofrida, vivida e 25

26 Publizr Home


You need flash player to view this online publication